Jornalistas britânicos expulsos durante encontro de Starmer e Xi no G-20
Primeiro-ministro do Reino Unido confronta presidente chinês sobre direitos humanos e Taiwan, mas reunião é marcada por tensão e restrição à imprensa.
RIO DE JANEIRO — G20: Tensão marca encontro entre Starmer e Xi Jinping com expulsão de jornalistas britânicos
Autoridades chinesas expulsaram repórteres britânicos durante um encontro bilateral no G20, entre o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, e o presidente chinês, Xi Jinping. O incidente, que ocorreu nesta segunda-feira no Rio de Janeiro, destacou os desafios das relações entre os dois países em um contexto global de crescente desconfiança.
O encontro, o primeiro entre um primeiro-ministro britânico e Xi em mais de seis anos, foi concebido como uma oportunidade para abrir um canal de diálogo mais produtivo. Starmer propôs visitar o premiê chinês Li Qiang em Pequim ou recebê-lo em Londres, em uma tentativa de reconstruir pontes após anos de tensões agravadas pelas políticas de seus antecessores conservadores.
Abordagem estratégica de Starmer
Starmer aproveitou a oportunidade para reposicionar o Reino Unido como um parceiro global confiável. Ele enfatizou a importância do Estado de Direito e descreveu o país como um “ator soberano previsível, consistente e comprometido com relações duráveis e respeitosas.”
“Uma relação sólida entre Reino Unido e China é importante para nossos países e para a comunidade internacional mais ampla”, afirmou Starmer em sua introdução no Sheraton Grand Hotel, antes de os jornalistas serem expulsos por autoridades chinesas.
No entanto, as boas intenções não impediram o desconforto quando o primeiro-ministro abordou questões delicadas, como direitos humanos, Taiwan, sanções a parlamentares britânicos e o caso de Jimmy Lai, magnata pró-democracia preso em Hong Kong. Ao mencionar a “preocupação” com o agravamento da situação de Lai, os dois jornalistas britânicos presentes foram abruptamente retirados da sala.
Economia em foco
Além das questões políticas, Starmer tentou avançar na retomada do diálogo econômico com a China, propondo uma reunião entre sua chanceler, Rachel Reeves, e o vice-premiê chinês, He Lifeng. O objetivo seria destravar o Diálogo Econômico e Financeiro Reino Unido-China e buscar um “campo de jogo mais equilibrado” para os negócios britânicos.
Com o cenário global em constante mudança e o possível retorno de Donald Trump à presidência dos EUA, Starmer busca proteger os interesses britânicos e estimular investimentos em meio ao crescimento econômico estagnado do Reino Unido.
“Quero que minha chanceler explore novos projetos de investimento e promova condições mais equitativas para nossas empresas”, disse Starmer.
China acena com otimismo
A mídia estatal chinesa Xinhua relatou que Xi Jinping pediu respeito mútuo e cooperação, afirmando que ambos os países deveriam honrar sua parceria estratégica. Em um tom conciliador, Xi também reconheceu os esforços do governo britânico para “corrigir as bases da economia e reconstruir o Reino Unido” — ecoando parte do discurso de campanha do próprio Starmer.
Relação conturbada
Este encontro histórico ocorre após anos de relações turbulentas. Desde o auge em 2015, quando David Cameron declarou uma “era dourada” com a China, os laços entre os países se deterioraram, especialmente sob Boris Johnson, que cedeu à pressão dos EUA para banir a Huawei da rede 5G do Reino Unido.
Starmer parece estar apostando em um equilíbrio delicado: reforçar os interesses britânicos sem alienar Pequim. Contudo, o episódio com os jornalistas demonstra que navegar essas águas diplomáticas continua sendo um desafio para o novo primeiro-ministro.
O Reino Unido enfrenta uma encruzilhada. Enquanto tenta revitalizar sua economia e fortalecer sua posição global, o incidente no G20 é um lembrete de que as tensões com a China ainda são uma realidade difícil de contornar.
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